Após a segunda milha, a Sorte nos abandonara, deixando para trás a túnica e o alforje com cinco pedaços de pão. Exatamente quando o sol se encontrava no ponto mais alto do céu dos caminhantes, Sorte fitou por algum instante que parecia interminável com olhos arregalados o ponto onde as margens da estrada se encontram. Louca e repentinamente, sem olhar para trás, para os lados e para nós, se embrenhou nua na mata sem se despedir, sem dizer uma outra palavra qualquer. Olhei para Tempo sem entender. Tempo olhou para o ponto onde as margens da estrada se encontram e seguiu caminho
Seguimos caminho a fora o Tempo e eu.
No cair da tarde chegamos, enfim, no ponto onde as margens daquela estrada se encontram. Na verdade as margens nunca se encontrariam. Não era o fim. Nada era senão a bifurcação que levara Sorte à loucura.
Agora eu estava entre o caminho largo, de chão duro, homogêneo e socado pelo que parecia ser pisadas e milhares de pisadas de caminheiros, e o outro, estreito. Sobre este eu poderia dizer que era muito estreito, aparentemente pouco trilhado e cuja direção apontava para o por do sol. Eu estava exausto. Foi o único instante
Estranhou-me apenas a data da carta de alforria assinada pela mão divina. A data era de um tempo antes do meu nascimento, um tempo que não se pode contar com o nosso sol, um tempo antes da fundação do mundo.
Tomei o caminho cuja direção aponta para o por do sol. Tempo acompanhou-me, fiel e sem dizer uma palavra.