Carta ao Reuel Pereira Feitosa, Vossa Majestade, Marcos Rogério, Vossa Alteza e Cia.
Dois dias depois da última vez que coloquei os pés na igreja, um cordeirinho de sua igreja cumprimentou-me na estação de ônibus sem eu saber de quem se tratava. Não o conhecia até então. Disse que também estava no culto do dia 07/08/2011, culto de ceia a que fui convidado depois de nossa conversa de 5 horas menos uma ( menos uma hora porque o encontro foi marcado para 17:00 hs e Vossa Majestade me recebeu às 18:00 porque eu não sou nenhum figurão ou ricaço, estavas a dormir em seu gabinete). Perguntou-me o mancebo o que havia acontecido. Devolvi a pergunta: “_ O que você acha que aconteceu?” Abner: “ _ Confabulando com meus amigos as possibilidades, alguém da patota sugeriu que seu caso foi Homossexualismo.” Não era para menos. A forma sutil, dissimulada e covarde com que me chamásseis à frente da igreja para que orassem por mim sugeriu que se tratava de um filho pródigo que retornara à casa do pai. “_ Há alguém aqui, com quem conversei essa semana, não vou dizer o nome e sabe do que estou falando, se tiver a consciência de vir aqui à frente, venha para que oremos por você.” Tá querendo me constranger? Eu fui e de cabeça erguida. Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Ademais, eu não tinha dívidas, tinha minhas dúvidas e fui coloca-las à prova para tirar minhas conclusões. E, após o culto, Solange, que foi líder do grupo de louvor, chega para mim, ostentando espiritualidade, ainda solta: _É melhor a gente sofrer com Jesus do que sem Ele, né?! Pra início de conversa não há quem sofra sem Jesus. Ele conhece a dor, a paixão e sentimentos humanos. Mas alguns sofrerão com um belo e viril: “_ Não vos conheço”. Se algum dia eu tivesse sofrido sem Jesus, não estaria ali naquele dia, podem acreditar e nem para escrever o que aqui escrevo.
O que citei acima é mais um exemplo clássico do que experimento desde que saí da igreja a 14 anos atrás. Saí da igreja pela porta dos fundos, à francesa, enviando, sem explicações, um fax comunicando meu desligamento do ministério peniel, agradecendo o tempo que ali servi. Saí da igreja, larguei a batina, toquei o barco da vida da melhor forma como convinha a mim, e até hoje evangélicos tropeçam no meu caminho, perguntam se ou onde estou congregando, trazendo informações sobre mais pessoas, líderes que saíram da igreja, pastores que cometeram adultério. Eu nunca me dei ao trabalho de sequer pegar o telefone e ligar pra quem quer que seja pra saber como andam as coisas.
Toda vez que um evangélico pergunta a mim “Por que você não vai mais à igreja?” é uma punhalada, uma ferida que se reabre e que venho tentando fechar anos a fio. Percebo nos olhares e outras respostas corporais o constrangimento, o desconforto, a reprovação da brasa viva de um cigarro entre meus dedos. Se fumar é pecado, é o menor e menos grave de meus pecados.
Foram esses incômodos que me levaram a reconhecer que havia muita mágoa, muita amargura, muito ódio em meu coração e que eu estava tocando o barco de forma muito precária. Jesus sugere a forma terapêutica de se resolver questões relacionais através da procura à pessoa de quem se tem algo contra e conversar.
E essa foi minha motivação ao procurar Vossa Majestade. Eu necessitava e necessito curar minha alma. A conversa foi atropelada por uma carga minha muito densa de emoções. Quatro horas não foi suficiente para pontuar episódios e o desencadeamento de tais, relatar o efeito dominó do que ocorreu na Colômbia nos anos de 1994, 1995 e janeiro de 1996, onde tudo começou a terminar. E no culto de ceia eu mesmo disse a vós que gostaria de uma nova reunião para conversarmos com mais racionalidade, e estou esperando até o presente momento. Não espero mais.
No dia da conversa, Vossa Majestade disse que me amáveis. Não o creio. Por que nunca me procurou para saber o que aconteceu exatamente? Por que, depois de 14 anos vens a requerer de mim o ocorrido na Colômbia?
A partir de aqui a pergunta é retórica. Eu mesmo respondo.
Eis aí o relatório da Colômbia:
Na Colômbia comi o pão que... o Diabo amassou? Não, senhoras e senhores. O capeta não se deu ao trabalho. Anteciparam-se a ele.
Eu fora designado pelo ministério para assumir o pastorado da igreja implantada pelo Pr. Samuel, que Deus o tenha. Chegamos em agosto de 94 eu e minha esposa, na época. ( Para os desavisados e para que não comentam gafes, sou divorciado a 6 anos e seis mese)s. Pr. Samuel convidou nos idos de 1993 o ministério peniel para assumir o trabalho, a obra, a igreja, a pessoa jurídica e a pessoa pessoas. Igreja em Sta Fé de Bogotá e trabalho de reabilitação de viciados que existia num sítio próximo da capital. A necessidade de gente formada e experiente era urgente, pois o próprio Pr. Samuel, que em paz descanse, disse que passaria o trabalho para o ministério peniel e que partiria para outra frente de trabalho. O cara era foda, parecia um trator arando a terra. Tinha o perfil perfeito de gente que tem potencial para desbravar novos terrenos. Isso é fato.
É preciso salientar que minha permanência na Colômbia dependia exclusivamente da pessoa jurídica criada pelo Samuel. Segundo: Chegamos ao aeroporto por volta de 06:00 hs manhã. Fomos dormir 04:00 hs da manhã do dia seguinte. O cara e sua esposa Noemi estavam exaustos, saudade de falar português, necessidade de falar e falar, dividir a carga... Coisas de experiência transcultural. O Samuel precisava de cuidados, Reuel. Precisava da atenção que a ele não foi dispensada, nem mesmo no período inicial de transição. Sempre que vocês entravam em contato, era apenas comigo. E isso era constrangedor. Se não faltou tato de vossa parte, faltou diplomacia e respeito ao que ele fundara sozinho na Colômbia. Tinha, inclusive, seus próprios mantenedores. O que conferia a ele autonomia, inclusive para rescindir contrato. A tensão foi criada, não comigo. O clima passou a ser sentido mais como empresarial do que coisa do Reino dos Céus. E nosso relacionamento local era de respeito, cooperação e amizade. A questão era Peniel Colômbia x peniel Brasil. Não bastava chegarmos na Colômbia, assumirmos tudo e pronto. Tchau, Samuel, Adiós, Hasta la vista, babe! O sujeito sentia necessidade de falar com o presidente do ministério. Fomos amigos no Brasil. Ele ressentiu-se com isso, sentiu-se excluído do time, pois confidenciou aos desabafos numa conversa que tivemos dias antes de sua morte, engolindo seco o choro que não saia. Agradeço a Deus que tivemos a oportunidade de conversar e nos retratarmos.
Terceiro e esse episódio, sim, foi foda. Quatro meses depois de nossa chegada, exatamente no dia 25 de dezembro de 94 nos chega nada mais e nada menos um obreiro, Eugênio. Quem é Eugênio? Um filho da puta de um filhinho de papai, 30 anos, se me lembro bem, que passara pelo programa de reabilitação (janeiro a julho de 94 mais ou menos). Recebeu herança dos pais, leu no boletim que no trabalho da Colômbia havia quatro crianças. Interessou-se pela obra missionária na Colômbia especificamente porque se interessou pelas criancinhas. O filho da puta não passava de um pedófilo. Eu disse PEDOFILIA. Foi ele mesmo quem financiou as passagens dos missionários, ou seja, uma desse sujeito quem vos fala e outra, da esposa (na época) do sujeito quem vos fala. No culto de fechamento do Congresso de Missões que lançou o projeto Colômbia, o cara se ajoelha na frente da igreja, oferece dinheiro para pagar as passagens dos missionários e, de brinde, se oferece como obreiro para o campo missionário. Emoção, comoção, aplausos e corrupção. Vossa Majestade, sem consultar aos missionários, ao corpo ministerial, aprova, despoticamente, tal atitude. E esse foi um de meus pecados: silenciar a palavra na hora errada. Por outro lado, eu sabia que se me indispusesse contra o presidente-ditador-déspota-nazifascista, eu seria frito. Era jovem, inexperiente, sonhador, ingênuo, leal ao meu juramento e ao extremo da condescendência e burro.
O Caso Eugênio, ladies and gentlemen, tem nome. Chama-se SIMONIA. Tráfico de coisas sagradas, comércio de cargos eclesiásticos em benefício próprio. A palavra deriva do personagem, Simão, o Mago, que queria comprar das mãos do Apóstolo Pedro o que era doado gratuitamente das mãos divinas. Além do fato de não passar-se de um pedófilo. Eu flagrei Eugênio dando banhos nos meninos.
Desfecho? Quem ficou enfurnado no sítio, cuidando de crianças e marmanjos e vigiando um safado? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... Alguémmmmmm?
Júlio César Diniz, este quem vos fala, e sem Pr., por favor! Não tive tempo de cuidar da igreja como muitos achavam e até julgaram que fracassamos porque chegamos na Colômbia com muita pompa, muito intelectualismo e o povo ficou às mínguas. Não. Eu coloquei o meu na reta para defender a reputação de quem eu achava que tinha alguma.
Bingo!!!!!
Eu segurei a bomba. Engoli o choro e o grito para preservar a reputação de quem eu achava que tinha alguma, de gente que eu julgava ser séria, repito.
A coisa chegou a tal ponto da Embaixada Brasileira entrar em contato comigo para dar contas do paradeiro do sr. Eugênio que se perdeu pelas ruas de Bogotá, no underground. Los Mártires, Calle del Cartucho... eu estive lá. Crianças, velhos, gente rica, gente pobre, famílias inteiras compartilhando bazuco (crack), vendendo até as roupas do corpo.
Alguém, por favor, sabia disso? Alguém? Hum?
Desfecho II?
Samuel rompeu relações conosco, expulsou minha esposa das dependências da igreja onde morávamos enquanto eu estava em Medellín, sob orientação e determinação do ministério peniel no Brasil (o cara virou uma arara quando ficou sabendo que eu estava em Medellín, sentiu-se traído), para iniciar do nada, sem logística nenhuma, uma frente de trabalho. Nesse período ele estava no Brasil para aparar as arestas com a Vossa Majestade. Chegando na Colômbia, mudou de ideia, reassumindo pra si o que ele mesmo fundara. Quem, em sua perfeita sanidade, vai entregar sua casa ou sua empresa a um empregado que tem a intenção de transformá-la num puteiro? Caso Eugênio novamente e a pergunta é retórica.
Sem visto de permanência, pois o rompimento com Samuel significava minha ruptura com a pessoa jurídica que nos dava total cobertura para nossa estada no país e o fato de que para sermos aceitos por outra pessoa jurídica necessitávamos do documento Paz e Salvo, uma espécie de atestado de bons antecedentes emitido pela pessoa jurídica empregadora anterior. Quem era? Acertou quem disse Samuel. Ademais a grana dava pra o aluguel e comida, além de gastos com salvo-conduto a cada dois meses, e com o nome sujo em Medellín. Foi assim que tentei iniciar um trabalho na cidade. Alugamos um apartamento e iniciamos um grupo com três pessoas, eu, a esposa e um maluco que nos ajudou a encontrar um fiador para o aluguel. Recebemos uma tutela da prefeitura nos proibindo de fazer reuniões no apartamento que era alugado exclusivamente para moradia.
O que fiz foi tentar conseguir uma pessoa jurídica que nos desse cobertura. E quem me conhecia para ter tal ousadia? Necessitei ficar num comunidade cristã, igreja mesmo, até que conhecessem quem eu era. Mais tarde propuseram uma espécie de convênio com o ministério peniel no Brasil que não foi aprovado. Também, no mesmo período em que ajudávamos nessa igreja, procuramos como bons cristãos o Samuel. Reconciliamo-nos, choramos. Beijos abraços e tal. O Samuel disse o seguinte: Júlio, para você trabalhar em qualquer outra igreja eu assino o documento de Paz e Salvo, mas para vocês trabalharem com a peniel, não. Não é não.
Senhores caluniadores, eu tive minha chance ser bem sucedido na Colômbia. Vestir outra camisa. Associar-me a outras igrejas. Mas ainda havia em meu sangue excesso de sujeira de honra a um ministério que não honra seus obreiros. Se a coisa dá certo, ponto para Vossa Majestade. Se dá errado, a culpa, o pecado é do sujeito do outro lado que coloca o seu na reta pra defender gente que não honra o que tem entre as pernas.
Como se diz na Colômbia: NO SON HOMBRES DE PANTALONES.
Retornei para o Brasil com o estigma de pastor e missionário fracassado. A desculpa esfarrapa que deram à igreja é que estávamos sofrendo risco de vida ou de morte, como queiram. Minha alma estava retalhada. Para piorar, sofri boicote. Sobre meu retorno para o Brasil, ficou determinado que eu assumisse a direção do seminário. Ouvir aquilo me deu alívio e alento para fazer, na verdade, o que sempre gostei. Hoje tenho ojeriza a teologia, nojo. Que morram os teólogos.
Enfim, retornei e não assumi a direção do seminário. Colocaram-me, sem dar satisfação, como deão. Fiquei seis meses e já não aguentava o boicote, e eu, de bico calado. Foi então que dei um prazo para mim mesmo de alguns dias. Porra, ainda fiz isso? Se algo de novo não acontecesse, largaria de vez a batina, digo, o terno. No fim, dá no mesmo.
Eis que surge meu herói, Marcos Rogério. Entra na minha sala e me faz o convite para ir para Três Lagoas trabalhar na grande igreja como co-pastor, afirmando ainda que Deus, o Senhor dos Exércitos, o estava chamando para outro lugar. Ele disse, não eu.
Lá a negócio não foi diferente. Vou tentar resumir porque já to vendo que to de saco cheio.
Outro déspota, totalitário, ditador.
Exemplos: Eu ficava sabendo das programações da igreja em cima do púlpito. Ganhei de presente um ar condicionado que Vossa Alteza não autorizou a instalar na casa onde morávamos. Também era dependência da igreja. Um grupo de irmãos da igreja se empenhou em comprar um carro pra mim. Eu andava pra cima e pra baixo de bike. Chegava suado na igreja com cheiro de gente. Aquilo era gostoso. Havia identificação com o povo e eu ainda era romântico. Pediram autorização para Vossa Alteza para tal ato de generosidade. Precisa eu dizer qual foi a resposta, porra?! E outras sacanagens mais.
Criei coragem. Pedi transferência para qualquer outro lugar para, na verdade, ligar o luminoso na minha testa.
FODAM-SE
Na época não falei assim. Saí à francesa e com um fax de agradecimento por tudo.
E agradeço mesmo. Saí fora. Não levei comigo uma agulha. Literalmente saí com uma mão na frente e outra atrás. Com o INSS defasado. Trabalhei na igreja desde meus 17 anos, no mesmo ano em que entrei para o Seminário e no mesmo ano em que passei num concurso do Estado. Emprego de que abri mão por força de algo que queimava no meu peito. Eu tinha paixão por pessoas. Queria cuidar de gente e rasgava pra dinheiro.
Saí aos 27 anos. Fiquei desempregado dois anos, fazendo bicos, até ser convocado por uma empresa pública, fruto de concurso público, onde trabalho até hoje pra quem gosta de saber.
Com esse emprego, comprei meu apartamento e meu carro, para quem quer e gosta de tomar conta da vida dos outros.
Também compro meus cigarros, meu Black Label, meu beck pra relaxar. Talvez, prejudicando minha saúde, eu esteja, inconsciente e conscientemente, enamorado da morte, querendo apressar o inevitável. Eu disse talvez. Ou talvez seja porque eu goste mesmo de fumar .
Sobre sexo tenho apenas uma coisa a dizer:
Minha sexualidade é partilhada apenas com AQUELA que quer partilhar a sua comigo, caso contrário, eu seria um ator pornô. De resto, as janelas de meu ap têm cortina e blackout pra ficar escurinho. Apenas o cheiro feminino já é capaz de guiar meus instintos e todo o resto. E minha respiração se encarrega de embaçar as janelas do meu carro.
Confesso, Reuel Pereira Feitosa, Vossa Majestade:
Seguindo o protocolo do Evangelho de Jesus, acreditei que vós seríeis capaz de levar à conversa a diante, participando do processo terapêutico em que estou metido. Não jogue pérola aos porcos, dizendo que me ama se não capaz de andar comigo a segunda milha.
Hoje desconheço os evangélicos. Gente maldosa, maledicente, fofoqueira. Sofre como quem toma conta da vida alheia porque não é capaz de dar conta de si.
Não sou homem feito. Não estou pronto. Hoje não tenho e não preciso de líderes que digam o que devo fazer. Da minha vida e de minhas palavras prestarei contas a Deus. E podem aguardar na fila, pois a conversa vai ser longa.
Não entrei nesse negócio por brincadeira. Não sou palhaço. Se alguém quer falar de mim, faça primeiro tudo o que eu fiz, e depois a gente tem uma conversinha. Também não uso e nunca usei o microfone como instrumento fálico de poder para compensar a falta de honra dos próprios culhões.
O discurso não mudou. Não aprenderam com as porradas da vida? Como cristãos não podem ter sonhos, se são os crentes evangélicos que patrocinam, através de dízimos e ofertas, seus ternos impecáveis, seu carro bacana, e moradia no coração da Savassi? Eu abri mão da construção de uma carreira profissional por causa desse discurso sedutor.
Teria muitos detalhes pra contar. Coisas que me feriram pra caralho... Estou nauseado por ter que expor aqui essas coisas, esse lixo. Quero tirar isso de dentro de mim, e não quisestes tal oportunidade. Sequer teve a decência de tomar a iniciativa de regularizar meu INSS e eu ainda toquei no assunto. Por que, a Leila Galache, FILHA do Rene Feitosa, tinha seu INSS pago na época em que trabalhávamos juntos e eu não?
Que porra de instrumento de justiça de Deus é essa igreja evangélica? De onde vem essa sujeira fétida?
E eu sou o caído nessa lama toda?
Por favor, não me perguntem, senhores evangélicos, por que não vou mais à igreja?
Nem é a pergunta correta.
O correto seria perguntar o por que entrei na igreja evangélica?
A resposta encontrei em mim mesmo, em minha estrutura interna e meu psiquismo doentio que tanto patrocinavam meu auto-engano.
Vão à merda. Deixem-me em paz.
“La confessión alívia el alma, pero daña la reputación”