Não é por acaso que os entardeceres me são
Nem tão tristes, nem tão alegres,
Melancólicos, eu diria
Como palhaço retirando no camarim
A maquiagem depois do espetáculo
Não me lembro de nenhum ocaso que tenha sido gratuito a mim
Oferecem-me sempre um pouco do brilho da beleza eterna
Pedindo-me em troca um bocado de dor efêmera
São os olhos de Amon-Rá cerrando as pálpebras no ocidente
Os deuses também se silenciam!
São os olhos de Marte com ares de guerra e crueldade
Vencidos ante a anatomia divinal de Vênus
Seu sono orgástico se prostra ao zanago daqueles olhos vagos
O final da guerra é sempre carregado de uma tristeza necessária!
Caso contrário, a guerra mesma não teria fim.
Caso contrário, a guerra mesma não teria fim.
São os olhos do menino à janela do trem
Que adentra o túnel escuro, sem medo
De lá, da janela, olhando para a boca que engole fumaça, vagões
e viajores
Contempla aquela luz que se distancia no passado
Como se fosse esperança do porvir
Há uma luz no fim do túnel!
São os olhos do poeta que em plena alvorada
Escreve uma ode ao Pôr do Sol
Um profeta são, um Cristo louco
Que antecipa sua própria morte, sem medo
E anuncia a vitória do ressurgimento