quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Prelúdio


Venha, mulher
Que já fiz a reserva do dia,
Do lugar de seu aconchego
E do vinho para mais tarde
Venha, querida
Já fiz a faxina na casa
Borrifei sobre o tapete da sala
Um pouco de essência amadeirada
E o aparelho de DVD prestes a rolar
Aquele show que não vimos ao vivo
Troquei a roupa de cama
E poli os espelhos do quarto
Acendi o incenso de mirra
Já fiz a mise in place
E deixei a massa al dente
Para ganharmos tempo
Podemos apenas nos acotovelar
Na bancada da cozinha
A quatro mãos entre ervas finas e os cogumelos
E o molho bechamel e a porção de bacon
E o mel dos lábios e as cócegas
E as gargalhadas...
Enquanto tomamos Martini com pimenta
A biquinho, aquela que você gosta
Enquanto ouvimos na rádio
As músicas que nos vem
Como caixinhas de surpresa
Venha, não demore
E se atrasar por causa da escolha da roupa,
Dos brincos, do baton, do penteado ou do trânsito
Não se preocupe
Teremos a noite toda e mais um dia
Eu quero mesmo é teu cabelo selvagem
E sua maquiagem borrada
Venha
Você pode até antecipar-se à hora marcada
Já deixei tudo pronto
Já estou pronto desde sempre
Temos um amor por fiança
Temos um acordo de acordarmos até mais tarde
E dormirmos acordados
Venha, não se esqueça
Não passe tanto perfume
Quero mesmo é sentir aquele seu cheiro
Que impregna teus tecidos
Venha, querida
Quero pensar-lhe as feridas
As do cansaço, do mau acaso e da lida
Venha querida, amada
Amante, amiga
Mulher, menina
Temos a noite por criança
Venha, morena
Vamos brincar de viver
E esquecer nesses prazeres
A dor e o passado
Já que nem mais o futuro existe
Venha
Já que a vida é sempre perdida na morte
E temos senão a espera deste agora
Deixe meu olhar se perder no seu
E minhas mãos, na vastidão de tua pele,
Na massa voluptuosa de teus seios
E meus dedos se perderem por entre tuas carnes
Na viagem das tensões de teus músculos
Na massagem a dissolver-lhes os nódulos
E minha língua ficar muda
Meus urros, inefáveis
E meu corpo todo se perder em tua alma
Alma tua a alumiar o corpo meu
Pela eletricidade viva do teu
O corpo seu
Venha...
Que estou com fome