segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Afinal, que lugar é esse?

É bem mais uma metáfora ou, mais precisamente, a parte da metáfora cujo conceito alude ao espaço da intimidade, da solitude do ser, do recolhimento em si mesmo, da reserva onde não cabe ninguém mais além do indivíduo que nutre o desejo como virtude e dele desfruta como graça. Para além dessa perspectiva, o termo Quarto, definido como um compartimento de uma casa entre outras categorias de espaço construído, já não tem mais validade aqui se for tomado por empréstimo para lançar o Desejo no tempo e no espaço. Somos carentes de definições por razões pedagógicas e, sobretudo, por vivermos num mundo concreto, feito de luz, sombras e pó.

Considerando a extensão da metáfora para a casa toda , Desejo mais seria o ar que permeia todos os recônditos da construção, sem, contudo, ser a própria construção. Em qualquer parte onde se transita se é inteiro, desnudo, íntegro e conciliado consigo mesmo, não se permitindo aprisionar num confinamento estático. No entanto, para que a inteireza de ser seja exercida fora, é preciso ser aprendida e exercitada no quarto do desejo, onde o ser inspira o ar que lhe confere força do desejo e que o projeta para fora na forma de realização e interação com as demais realidades.

Nesse quarto também é que são travadas as mais terríveis e cruéis batalhas. É onde o ser vai DE encontro e AO encontro de sua verdade nua e crua, sem maquiagem, sem embuste, sem excusas. Aqui o Desejo já se encontra num porão escuro, úmido, fétido, onde residem monstros e as assombrações vampirizam o ser. E é aí mesmo que devem ser enfrentados esses demônios e exorcizados.

Alquebrado, o Desejo pode encontrar sossego para sentir-se ferida e dor, para ver diante de si num só olhar todas as partes partidas, e em cada uma delas identificar a mesma essência cuja forma na qual reside apenas se encontra desintegrada, como um vaso que se partiu no canto do quarto e dele ainda se diz que é um vaso, um vaso partido. O esforço ainda é manter a inteireza da essência que está em cada parte. A luta também é contra os radicalismos rígidos como o maniqueísmo e as polarizações. Aliás, é a rigidez extrema que promove fraturas mais graves.

Podemos imaginar um quarto do Desejo mais como A Casa – de Vinícius de Moraes. Não há plano cartesiano cujas coordenadas x escolhas e y responsabilidades possam dar sustentabilidade nem garantias ao Desejo. É melhor mesmo que seja um espaço onde não se entra com tanta sisão, pois sempre haverá mais necessidade de de-cisão. A profanação desse espaço sagrado é exatamente tentar fazer dele um lugar sério, viceral, rígido, ascético, insosso, impingindo-lhe teor formal em nome da reverência. Tirar as sandálias dos pés porque se está pisando num lugar santo é , a meu modo de ver, desvestir-se de quaisquer preconceitos e artifícios acumulados ao longo da caminhada da vida que interferem na capacidade do desejo de sentir debaixo dos pés a intensidade e paixão da vida como possibilidade que se aponta num caminho novo a partir do encontro com o Sagrado. Equivale a desnudar o ser para que se veja o ser como o ser é. Do contrário, não há possibilidades de transformação.

A propósito, aos mais afoitos e ouriçados com títulos dessa natureza, este não é mais um site pornográfico, como o título pode sugerir (rsrsrs). A expansão da observação fica para uma postagem oportuna.