Maria, cheia de graça, cheia de vida, cheia de riso. Maria dançava o tempo todo.
E como era bonito ver Maria dançar! O brilho em seus olhos e aquele sorriso radiante denunciavam seu maior desejo quando Maria dançava.
Perguntaram-lhe uma vez, enquanto dançava despretensiosamente, numa expectativa de que a dança seria interrompida para ouvirem a resposta.
_ Maria, por que você gosta tanto de dançar?!
Maria continuou dançando, sem dar-se conta daquele sorriso peculiar que lhe escapara da boca quase como que resposta.
Parou abruptamente e olhou para o infinito como se buscasse sua própria imagem. Franziu a testa. O cessar do sorriso foi acompanhado pela inércia da respiração ofegante e um certo desconforto que em nada combinava com a música que continuava tocar naquela vitrola de disco de vinil. Abaixou a cabeça.
Não olhou para quem perguntou. Olhou novamente para o infinito. Sorriu:
_ “É como se a eletricidade passasse pelo meu corpo e eu sentisse que desapareço!” Billy Elliot
Certa feita, uma famosa companhia de dança foi apresentar um espetáculo na cidade de Maria. Maria juntou as economias, quebrou antecipadamente o porquinho reservado apenas para o último dia do ano, barganhou mais algumas coisinhas. O ingresso na mão. Primeira fila.
Durante o espetáculo Maria esteve paralisada. Extasiada.
No final da apresentação, ocorreu-lhe uma idéia: “Preciso falar com o diretor da companhia, como se não conhecesse sua fama.”.
Esperou o momento oportuno.
_ Sr. Diretor, preciso de sua atenção por cinco minutos. Eu danço, amo a dança e quero fazer parte de sua companhia de dança.
_ Ok. Dance.
Maria dançou.
_ Então, Sr. Diretor, o que você acha?!
O diretor, fitando-lhe nos olhos disse, seco:
_ Você não é boa não!
E Maria não mais dançou!
Maria, cheia de raça, cheia de gana, cheia da vida. Maria trabalhava o tempo todo.
Como era virtuoso Maria trabalhar! Tinha carro, tinha casa, DVD, Home Theater, Note Book , Porta-fólio, porta-jóias , muitas jóias e etc.
E ninguém nunca perguntou porque Maria trabalhava tanto assim.
Maria era médica. Como era competente essa Maria.
Maria não dançava mais.
Certa feita, uma famosa companhia de dança foi apresentar um espetáculo na cidade grande onde morava Maria.. Maria mudou de cidade, mudou de vida, Seus amigos a convidaram
Durante o espetáculo Maria esteve paralisada. Extasiada.
No final da apresentação Maria tentava disfarçar as lágrimas.
Enquanto aguardava o cessar daquela movimentação de pessoas que deixavam a nave do teatro, Maria fitou os olhos num senhor que era lardeado por algumas pessoas. Ao reconhecê-lo como o diretor da companhia de dança que apresentara em sua cidade natal tempos atrás, foi assaltada por um desejo de esvazia-lo.
_ Com licença! O Sr. se lembra de mim?!
Obviamente não se lembrou, embora expressasse um constrangimento por não conseguir fazê-lo. Maria, por sua vez, estava emocionalmente carregada para perceber isso.
_ Não se lembra daquela mocinha que o procurou após o espetáculo e que expressou um desejo enorme de entrar em sua companhia de dança?! Até dançou na sua frente!
_ E o que aconteceu com a moça? Limitou-se o diretor numa tentativa de interagir com Maria.
_ O que aconteceu?! Exasperou-se.
_ Você disse que ela não era boa. Aquela mocinha era eu. Hoje sou uma médica bem sucedida, é verdade, mas uma médica frustrada. Lágrimas.
Silêncio.
O diretor, com um carinho paciente, tomou Maria pelos ombros como que a abraçando, e apontando Maria na direção daquelas moças que protagonizaram o espetáculo e, agora, estavam ali recebendo elogios em meio a toda aquela movimentação.
_ Pois bem! Está vendo aquelas moças ali?! O que eu disse a você anos atrás, disse também a cada uma delas: “vocês não são boas".
Adaptado de uma história que ouvi em algum lugar.