domingo, 14 de agosto de 2011

Pai

MEU PAI É BRUTO
MEU PAI É DURO
O DIAMANTE É BRUTO
O DIAMANTE  É DURO

_ Pai, veja esta informação confidencial que roubei do Google, e que ninguém saiba que roubei, senão teu filho vai em cana. Falei sussurrando e com olhar assustado e desconfiado de estar sendo vigiado por alguém da Interpol, entreguei-lhe o documento, advertindo de que o assunto é de natureza global e de proporções catastróficas, asseverando ainda que poderia derrubar a imagem de  reis, presidentes e líderes religiosos.

_ Que? Gugle?  Perguntou meu pai, curioso e sereno, fazendo aquela cara que gosto de ver nele de homem sábio que domina qualquer assunto, sem se preocupar com o fato de que o filho corria o sério risco de ser preso, levado em cana, ver o sol nascer quadrado, xilindró, andar de frente e de costas ao mesmo tempo no pátio da cadeia, dormir toda noite na cela com um olho aberto pra defender um olho cego. Meu Deus, quero nem pensar nisso!

_ Gugle não, papito! "Gugol". Ah, dizem por aí que é algum santo fazedor de milagres, até o chamam de São Google, outros chegam a acreditar que ele é um pai.

_ Meu filho, você está vivendo alguma crise paterna, complexo de Édipo mal resolvido, pensando que não sou seu p...

Interrompi imediatamente.

_ Nada disso, pai.

_ Como conseguiu este documento?

_ Pai, difícil explicar agora e também não é o caso. Resumo, aprendi na faculdade quando fiz Geografia e Análise Ambiental. Descobri  uma fórmula complexa, através de uma operação no laboratório de informática a que chamei de Control C + Control V, tipo E = mc², sabe?

Meu pai, sincero, fazendo não com a cabeça, nada orgulhoso e sem querer me ofender:

_ Meu filho, você nem conclui o curso. Falou, sem ousar comparar-me a Alberto Einsten. Quanta dureza de meu papito!

_ Então, papito! Fiquei frustrado e deprimido. Roubaram minha fórmula, a coisa vazou. Arriscaria-me a afirmar que todos os universitários, em algum momento de desespero, a usam. Larguei, desiludi. Ademais a pressão ainda era pouca. Bem que eu poderia ter ficado rico com aquela fórmula.

Tomou os óculos, o documento roubado, sentou-se, cruzou as pernas. Lia, em silêncio, sem perder a mania de frazir as sobrancelhas.

DIAMANTE


O diamante é uma forma alotrópica do carbono, de fórmula química C. É a forma termodinamicamente estável do carbono em pressões acima de 60 Kbar. Comercializados como gemas preciosas, os diamantes possuem um alto valor agregado. Normalmente, o diamante cristaliza com estrutura cúbica e pode ser sintetizado industrialmente. Outra forma de cristalização do diamante é a hexagonal, também conhecida como lonsdaleita, menos comum na natureza e com dureza menor (7-8 na escala de Mohs). A característica que difere os diamantes de outras formas alotrópicas, é o fato de cada átomo de carbono estar hibridizado em sp³, e encontrar-se ligado a outros 4 átomos de carbono por meio de ligações covalentes em um arranjo tridimensional tetraédrico. O diamante pode ser convertido em grafite, o alótropo termodinamicamente estável em baixas pressões, aplicando-se temperaturas acima de 1.500 °C sob vácuo ou atmosfera inerte. Em condições ambientes, essa conversão é extremamente lenta, tornando-se negligenciada.

Cristaliza no sistema cúbico, geralmente em cristais com forma octaédrica (8 faces) ou hexaquisoctaédrica (48 faces), frequentemente com superfícies curvas, arredondadas, incolores ou coradas. Os diamantes de cor escura são pouco conhecidos e o seu valor como gema é menor devido ao seu aspecto pouco atrativo. Diferente do que se pensou durante anos, os diamantes não são eternos pois o carbono definha com o tempo, mas os diamantes duram mais que qualquer ser humano.

Sendo carbono puro, o diamante arde quando exposto a uma chama, transformando-se em dióxido de carbono. É solúvel em diversos ácidos e infusível, exceto a altas pressões.


O diamante é o mais duro material de ocorrência natural que se conhece, com uma dureza de 10 (valor máximo da escala de Mohs). Isto significa que não pode ser riscado por nenhum outro mineral ou substância, exceto o próprio diamante, funcionando como um importante material abrasivo. No entanto, é muito frágil, esse fato deve-se à clivagem octaédrica perfeita. Estas características fizeram com que o diamante não fosse talhado durante muitos anos. As maiores jazidas do mundo são de África do Sul.Outras jazidas importantes situam-se na Rússia (segundo maior produtor) e na Austrália (terceiro maior produtor), entre outras de menor importância.

A densidade é de 3,48. O brilho é adamantino, derivado do elevadíssimo índice de refracção (2,42). Recorde-se que todos os minerais com índice de refracção maior ou igual a 1,9 possuem este brilho. No entanto, os cristais não cortados podem apresentar um brilho gorduroso. Pode apresentar fluorescência sob luz ultravioleta, originando colorações azul, rosa, amarela ou verde.

Não são só os diamantes incolores ou com matizes bonitos que se constituem como pedras preciosas como antigamente se pensava e usava, mas hoje em dia já são usados diamantes de cor (alguns de cor natural são mesmo de maior valor do que os incolores) e com formatos irregulares, que se utilizam em joalharia, montados em metais preciosos e/ou em associação com outras gemas.

O interesse popular nos diamantes centra-se no seu valor como gemas, mas os cristais têm ainda uma maior importância como ferramentas industriais. As variedades negras e microcristalinas, não tendo valor comercial, utilizam-se na indústria como abrasivos de alta qualidade ou como ferramentas de talha ou como perfuradores para materiais de dureza elevada (para a própria lapidação do diamante, por exemplo) . Estes podem ser usados para cortar, tornear e furar alumina, quartzo, vidro e artigos cerâmicos. O pó de diamante é usado para polir aços e outras ligas.

Diamantes azulados ou rosados são raros e, por isso, muito valiosos. Já os amarelados são mais comuns. Uma marca do diamante autêntico – e a primeira coisa que o distingue de falsificações grosseiras, como as de zircônio – é a sua leveza. O Diamante Koh-i-Noor, da Coroa Britânica, tem quase o tamanho de uma bola de pingue-pongue e não chega a 22 gramas.

O valor do diamante reside na ausência total de impurezas e de cor.

Uma vez selecionados, os diamantes são cortados e talham-se ao longo de direções nas quais a dureza é menor. Uma talha bem realizada é aquela que realça o foco, ou seja, o conjunto de reflexos de cores derivados dos reflexos.



Seguimos a conversa sobre o documento, filosofamos juntos, versamos sobre mitos e verdades, sobre metáforas, sobre as palavras escondidas por trás palavras, as palavras não-ditas, palavras malditas e benditas palavras, palavras silenciadas no peito e gritantes na alma, perturbadoras, palavras insones e palavras que nos devolvem o sono. Falamos sobre nós e pela primeira vez meu pai, meu papito lindo me permitiu encerrar a discussão calorosa, deixando apenas um exercício de casa para ser feito ali, naquele momento, prova oral.

_ Meu filho, faça um silogismo. As premissas já temos: Um pai e um Diamante.

MEU PAI É BRUTO
MEU PAI É DURO
O DIAMANTE É BRUTO
O DIAMANTE É DURO, logo,
MEU PAI É UM DIAMANTE
 
 
Dedicado ao Sr. José Diniz Ferreira, meu pai, meu papito, Seu Zequinha, Nome de Guerra: Diniz, Homem de Guerra, varão valoroso, que não deixou oito filhos seus passarem fome nem falta de caráter, que chorou diante de mim num natal qualquer de minha infância por não ter dinheiro para comprar o brinquedo que eu mais amaria ter quando menino, um Ferrorama e que mais tarde, bem mais tarde, vim a redescobrir que ele, o trenzinho, seria uma das metáforas que me seguiriam por toda a vida e , que de certa forma, me definem no tempo e no espaço. "Sou um trem sem sono, atravessando a noite no sertão".

Tá vendo, papai! Um diamante pode converter-se em grafite, e um pai pode converter-se ao seu filho, e o filho converter-se ao seu Pai. E é na pressão, meu velho.
Tá vendo, pai! Um diamante só pode ser cortado e lapidado por outro diamante. Como diz o sábio Rei Salomão: Como o ferro afia o ferro, assim o homem ao rosto de seu amigo. O Senhor  continua sendo um diamante, um diamante azulado, azulzinho como o céu está hoje. Deve ter caído de lá mesmo.

Quanto a mim, acho que estou me convertendo em grafite. Um grafite a ser posto na madeira de um lápis que será posto numa mala de mascates e uma criança vai sentar-se ao portão, esperando o Homem da Malinha, lembra? Ainda me lembro daquele velho barbudo e daquele cheirinho adocicado e novo que exalava daquela velha mala de couro marrom quando ele a abria diante de mim e de meus irmãos. O menino vai comprar aquele lápis de grafite, daqueles grandes e coloridos, com aquelas cores que se mesclavam. Um lápis de grafite, colorido por fora, mas que escreve preto no branco, negro como os Negros forjados na senzala, enrijecendo os músculos que os preparam para a liberdade. Para aquele menino, aquilo era magia. Um lápis colorido de uma cor só, comprado com as moedinhas adquiridas com a venda dos fios de cobre que o Senhor me ensinou a queimar no quintal de casa e fazer rolinhos para pesagem. Meus olhinhos, marejados pela fumaça negra, se fixavam naquele fogo encantador, fogo-camaleão, ladrão de camisas azuis, amarelas, vermelhas, verdes que encapavam aqueles pedaços de fios. Meu pulmão ardia. Havia um incômodo e eu não queria sair dali até ver tudo se transformar em carvão, esperar o calor esfriar e dar de porretes naquele espaguete frito, para ver, enfim, aquele brilho do cobre que eu acreditava ser ouro.

A criança carregará esse lápis por toda a vida, para escrever, entre tantas coisas, principalmente isso:
 
 
PAI, EU TE AMO !