Já não temo mais a morte
Pois minh'alma é andarilha
E minha mente que não mente
Inda que a língua tente negar
Divaga, navega, devora
Um pensamento diferente
Para cada momento pulsante
Um instante, um segundo, um terceiro
Um para cada minuto que faz a terra girar
De tão lerdo que sou
Queria que o planeta, o mundo, as gentes
Se movessem em câmera lenta
Pra eu degustá-los melhor
É que meus olhos são gulosos
Eu, então, não teria saudades
Não quero parar o mundo
Nem desse carrossel quero descer
Se parar, morrem a alma minha e minha mente viajora
Nem me atreveria a dizer que meu corpo vegetaria
Acaso uma mesma planta no inverno
Não é a mesma outra quando entrar setembro
No quintal de minha casa?
Perde a memória no outono
Desembaça os olhos no verão, no entanto.
Já nem temo mais as perdas
O tudo que não tenho
E todas as minhas coisas
Que coisas minhas e coisas não são
A mim, na verdade, nunca me pertenceram
Antes, eu a elas pertenço por dádiva da Graça
Delas serviçal para ser escravo
Da paixão arrebatadora
Da compaixão e do desapego
Minha alma, como eu disse, é andarilha
E meu coração, nômade.