segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Isso e Aquilo


Se não podes ouvir a voz do meu silêncio
Como compreendes minhas palavras proferidas?
Se não te atentas para os desabafos de minha ferida
Por que julgas meu olhar distante e meu coração taciturno?
Se nada tens a oferecer-me, por que te sujeitas aos meus cuidados, aos meus carinhos?
Se te inquietam minhas dúvidas, não deverias ter como porto minhas certezas.
Se te envergonhas com a nudeza de minha alma, minhas mazelas, idiossincrasias,
Minhas fraquezas
Por que entregas tua carne frágil e carente ao meu corpo selvagem e faminto?
Se não se dispõe à minha interioridade mais profunda, onde eu mesmo não sei onde estou,
De que maneira te arrebata meu toque em tuas superfícies?
Se aprovas a lucidez de minha sujeição à escravidão das convenções do mundo, por que te perturbas diante da loucura de minha liberdade?
Se não podes ser tolerante comigo, por que engoles minha saliva em teus beijos tórridos?

Eu não sou pelas metades
Nem sou metade de ninguém
A metade de mim é outra metade de mim também
Busco em mim meu encaixe, minha adequação, minha adaptação
Como que peças reviradas e confusas de um quebra-cabeça sobre a mesa
De tempos em tempos, estação após estação
Distanciando-me de mim mesmo
A fim de contemplar a obra inconclusa

Se não perdoares meus pecados, como ei de ser redimido?
Se não estiveres ao portão do paraíso a esperar-me
Como retornarei aos braços de teu aconchego?
Se não perder-me
Que esforço haveria na vida além da necessidade e instinto de encontrar-me?
E se houvesse já alcançado minha plenitude
De que valeria esta existência?

Eu: às vezes anjo, às vezes demônio
Humano sempre.
E não estou pronto.