terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sapere Aude




Ah, se você soubesse! Se você ousasse saber!
Se ousasse saber por onde esses pés já pisaram, quais os caminhos tortuosos pelos quais já passaram até chegarem aqui! Exatamente aqui!
Se soubesse que esses calos em minhas mãos não foram feitos de um dia para o outro, que são mistos de trabalho, de mãos atadas, estendidas!
Se soubesse quantas vezes minha boca se calou para que meus ouvidos fossem abertos! E também a minha razão para que meu peito fosse afeto!
Se soubesse como me fiz tola em seu engrandecimento! Em como me fiz penúria para lhe fazer exuberância! Da forma com a qual me desfiz de nobrezas e me despi de mantos para que reluzida fosse minha alma e nada além e, assim, lhe propor soberania!
Se soubesse de quantos sonhos não me desfiz para permanecer acordada em complacência! Da abnegação de tanta dor, quando entendi que seu pranto era maior! Das vezes que me fiz saudável estando enferma para que preocupação alguma ou piedade me fossem dignas!
Se soubesse que minhas cicatrizes são marcas das quais não tenho vergonha, mas antes me deleito por estarem fechadas e me rememorarem o quão custoso foi sará-las! As físicas e principalmente as da alma!
Ah, se ousasse! Se ousasse saber do momento em que me fiz perpétua para lhe garantir tal ousadia!
Se soubesse que me foi negado o direito de morrer para que eu aprendesse a viver!
Se soubesse as quantas barreiras traspassei para chegar mais uma vez aqui! No mesmo ponto de partida: um novo amanhecer que me permita conhecer a mim!

Thetê Cômbat 

Ária na Quarta Corda - Bach
Heaven's Dead - Audioslave