quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Gritos D'Alma

Sempre houve algo que minha alma tanto desejou e que meu corpo, no entanto, não pode experimentar. Eis que nascia minha liberdade e com ela, o sofrimento e a imaginação.
E, dentre as coisas que meu corpo experimentou, havia algumas pelas quais minha alma nutria repulsa. Eis aí a submissão, a contradição e o fastio. Consumaram-se minhas experiências de ser humano e ser escravo, e de um sofrimento menor.
Somente na minha vida maçante de excessos e extremos – e eu sabia muito bem até onde poderia chegar - pude ouvir os gritos perturbadores d’alma.



Sequer os dogmas podiam evitar tanto os excessos quanto os gritos, pois jamais compraram minha libertação. Antes, sibilavam em meus ouvidos como açoites que cortavam o ar e impiedosamente sulcavam minhas costas, enquanto meu corpo nu pendia inerte, preso pelas mãos às argolas que serviam de adorno daquela figura opulenta que se destacava no totem por sua expressão severa. Isso mesmo! Fui amarrado naquele objeto fálico que se erigia no meio da praça de meu clã, em torno do qual meus pares e traidores de si mesmos – para não dizê-lo de mim apenas - prestavam seu culto densamente ritualístico, enquanto meu corpo era flagelado. Minha consciência já estava atordoada pelos golpes desferidos da culpa.
Minha alma fora lançada num inferno. Esse era o sofrimento maior.
Todos aqueles excessos irracionais em nada não comoveram a Deus, à exceção de sua Graça. Isso sim era constrangedor.