sexta-feira, 11 de maio de 2012

C.T.I.S.



Meu coração está latejando de dor esses dias.

Resolvi procurar o Médico dos médicos.

Muito simpático. Muito mesmo!

Recebeu-me com um abraço caloroso e um sorriso largo.

Ele cheirava a pão quentinho que acabara de sair do forno.

Que sujeito estranho! Muito mesmo!

Não mediu pressão

Não pediu exames

Nem tinha estetoscópio

Pediu-me para deitar no leito

Que leito estranho!

Era de madeira e tinha forma cruz

Tinha uns entalhes bem bacanas

Umas gravuras psicodélicas

Coisa de artista mesmo!

Eu: _ Ali?

Ele: _ Sim, senhor! A não ser que você queira deitar no chão ou sentar no meu colo!

E deu uma bela gargalhada.

Não resisti e rachei o bico.

Ele: _ Sou escultor nas horas vagas.

Eu: _ Hum! Entendi.

Senti-me mais confortável e confiante.

A segurança que o Homem transmitia era sedutora demais.

Deitei sobre a cruz, digo, o leito.

Ele então curvou o tronco e reclinou a cabeça em meu peito,

Encaixando o ouvido um pouco mais para o lado esquerdo.

E ficou ali por um bom tempo.

Levantou-se e vi lágrimas em seus olhos

Assustado, levantei-me rápido e sentei-me sobre a cruz

_ É grave, doutor?

_ Calma, rapaz! Não terminei. Deite-se aí de novo.

Colocou a mão sobre meu peito, fechou os olhos e apenas mexia os lábios mudos. E ficou assim por um bom tempo.

Abriu os olhos, mandou-me vestir a camisa.

_ Éh, rapaz! Você tem coração!

_ E a dor, doutor?!

Ele repetiu: Você tem coração.

Sentou-se à mesa e começou a escrever.

Virou-se para o armário, retirou umas amostras grátis, colocou junto com a folha num envelope e entregou-me.

_ Obrigado, doutor! Alguma restrição?

_ Você sabe. Disse ele, piscando o olho esquerdo e sorrindo.

Levantou-se e, com a mão em meu ombro, encaminhou-me até à porta.

Agradeci novamente e ele perguntou-me:

_ Não tá esquecendo-se de nada?

Como a dúvida pairava em meu rosto, ele disse:

_ Vem cá, rapaz! Dá outro abraço aqui. E coçou minha cabeça.

Atravessei o corredor vazio e escuro do hospital. Parei na escadaria, abri o envelope, retirei primeiro a folha. Não entendi nada daquele garrancho de letra. Retirei uma das caixinhas de remédio.

Em destaque uma sigla: C.T.I.S.

_ Mel Dels! Que merda é essa?

Logo abaixo, em letras minúsculas:

Com o Tempo Isso Sai

Desci a escada cantarolando:

“Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou tempo presa na poeira..."