Se perguntam por mim
Diga-lhes que saí a cobrar a velha dívida
Que não pude esperar dar na vida
O desejo de bater na minha porta
Diga-lhes que saí definitivamente
A dar a cara sem pinturas e sem trajes no corpo
Se perguntam por mim
Diga-lhes que apaguei o fogo
Deixei limpa a panela e desnuda a cama
Cansei-me de esperar a esperança e fui buscá-la
Diga-lhes que não me chamem
Tirei o disco que entretinha em boleros
O beijo e o abraço
O cálice arremessei contra o espelho
Porque necessitava converter o vinho em sangue
Já que jamais se deu o milagre de converter-se a água em vinho
Se perguntam por mim
Diga-lhes que saí a cobrar a velha dívida
Que tinham comigo o amor, o fogo, o pão, o lençol e o vinho
Que passei a chave na porta
E não regresso
Definitivamente diga-lhes que mudei de casa.
Júlio Diniz